4º Dia-Os três começos de Deus

10/10/2012 23:47

 

Quarto Dia
Os três começos de Deus
 
 
A Palavra de Deus, especificamente o evangelho, possui um ponto central. Envolvemo-nos em demasia com coisas secundárias e até periféricas, enquanto o ponto central do evangelho é a Igreja, é Cristo dentro de nós.
Desde a eternidade passada, estava no coração de Deus Seu desejo de ter filhos. Deus intentava cumprir esse propósito por meio de Adão, mas Adão pecou, e o propósito de Deus foi momentaneamente adiado. Mas hoje, em Cristo, Seu propósito é restabelecido.
Dentro da visão celular, classificamos as igrejas como sendo igrejas de programas ou igrejas em células. As igrejas de programas são todas cujo propósito é o fazer algo, o realizar atividades, ou seja, realizar programas.
As igrejas em células, por outro lado, têm outro objetivo. Seu alvo básico não é o fazer, o realizar programas, mas gerar filhos e discípulos. Esse é o ponto central da visão de células, a base que sustenta toda a visão.
Todavia, com o passar do tempo, mesmo as igrejas em células podem tornar-se voltadas apenas para as atividades. As próprias células podem se tornar apenas um programa, mais uma atividade da igreja.
Desta forma, a simples distinção entre igrejas em células e igrejas de programas não é suficiente para alcançar o centro do propósito de Deus. Há um princípio básico que sustenta a igreja de programas, assim como há um princípio fundamental na base da igreja em células. A mentalidade básica da igreja de programas é o fazer algo para Deus. Não há preocupação com o propósito, desejam apenas fazer algo para Deus.
Por outro lado, em uma igreja celular, toda a atenção é voltada para a edificação, multiplicação e para o cuidado uns com os outros. Há, portanto, dois princípios, duas visões sobre a obra de Deus: a visão de fazer algo para Deus, em contraposição à visão de gerar alguém para Deus – fazer versus gerar.
Naturalmente, não estamos dizendo que seja errado fazer coisas para Deus. Não é questão de certo ou errado, de conflito entre o pecaminoso e o santo. Para nós, é uma questão de paradigma, de modelo. Supomos que tanto os que fazem coisas quanto os que geram filhos desejam agradar ao Senhor. A grande questão é qual dos dois paradigmas atinge o objetivo de agradar ao coração do Pai.
Os que fazem coisas e promovem atividades realizam coisas louváveis, obras de misericórdia, serviços, artes e outras realizações. Quem faz coisas para Deus deseja algo bom e até louvável. Trata-se de uma maneira de se enxergar o relacionamento com Deus, baseado sempre em fazer coisas para o Senhor. Eles acreditam que só agradam a Deus quando estão fazendo coisas para Ele.
Em oposição a esse modelo, há quem entenda que, no coração de Deus, está o gerar. Não que não façam mais coisas, mas as coisas que fazem não são um fim nelas mesmas, mas apenas um meio de gerar mais para Deus. Esses dois paradigmas são opostos entre si e se confrontam na Palavra de Deus. Esse contraste pode ser percebido nos três começos promovidos por Deus em Gênesis.
 
O primeiro começo de Deus
No começo, Deus criou o homem, abençoou-o e disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra”. Deus ordenou que eles fossem fecundos. É como se o Senhor dissesse para Adão: “Eu quero ter filhos. Criei você para ser meu filho. Darei a você habilidade para transmitir aos seus filhos a minha imagem, essa vida que eu quero que você tenha”.
Deus planejava que Adão comesse da Árvore da Vida e assim recebesse dentro de si a própria natureza divina. Dessa forma, os filhos dele teriam a semelhança de Deus. Todavia, Adão pecou e já não podia transmitir a imagem de Deus, e sim a própria imagem caída. Em Gênesis 5.3, lemos: “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem”. O filho de Adão já não era a semelhança de Deus. Era a semelhança do próprio Adão. Por quê? Porque, ao pecar, Adão perdeu a imagem da glória de Deus. A imagem de Deus é a Sua própria glória e a glória de Deus está na face de Cristo, que é a exata semelhança de Deus Pai (2 Co 4.6). No Éden, Adão e Eva estavam vestidos da glória de Deus, mas, no dia em que pecaram, perderam a glória. Por isso, o autor da Carta aos Romanos diz que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus. Eles perderam essa glória.
A consequência da queda foi a perda da imagem divina. Ao cair, o homem foi contaminado pelo pensamento de Lúcifer, recebendo em si a semente do diabo, e agora ele não está mais preocupado em cumprir o propósito de Deus. Sua preocupação agora é outra, é ter realizações e feitos para receber reino, poder e glória para si mesmo. O homem quer agora uma posição, um título de honra e é isso o que vemos no decorrer da narração bíblica.
Os capítulos 4 e 5 de Gênesis nos dão um retrato de duas gerações de homens a partir de Adão: os descendentes de Caim e os descendentes de Sete. Duas gerações representando dois tipos de homens e dois paradigmas: o do fazer e o do gerar.
A Bíblia até menciona que Caim teve filhos, mas o principal que se diz a respeito da sua geração é que eles fizeram coisas, eram grandes realizadores. No versículo 17 do capítulo 4, ficamos sabendo que Caim construiu uma cidade, evidência de sua extrema habilidade. Ele construiu uma cidade para o filho, o que exige habilidade, talento, trabalho e muita criatividade.
A narração continua até chegar a Lameque (v. 19). Esse homem teve duas esposas, Ada e Zilá. Ada deu à luz a Jabal, o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O texto diz que ele foi pai, porém, pai dos que fazem alguma coisa. A ênfase não está nos filhos, mas na habilidade que eles têm, no que eles produzem.
Depois, no verso 21, lemos a respeito de Jubal, pai dos que tocam harpa e flauta, dos que trabalham com arte e diversão. Você consegue perceber a habilidade dessa gente? Além deles, lemos no verso 22 a respeito de Tubalcaim, que era artífice, alguém que, além de ter habilidade artística, também dominava a técnica do artesão. Artífice é uma mistura do artista com o artesão. Ele era entendido em produzir obras de arte de bronze e de ferro, bem como armas cortantes.
Se vivessem em nossos dias, essas pessoas estariam nas capas das revistas. Elas realizam grandes coisas e fazem grandes feitos. Tudo digno de nota. Eles são a descendência de Caim. O valor deles é exclusivamente este, o que fazem. O texto bíblico não diz quanto tempo viveram – indicando que para Deus estavam mortos –, apenas registra o que realizaram.
Em oposição à descendência de Caim, no capítulo 5, encontramos a geração de Adão por meio de Sete. A respeito dessa geração, não se diz que fizeram ou realizaram coisa alguma. Eles apenas geraram filhos. 
Veja o que diz o capítulo 5, verso 4: “Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e teve filhos e filhas”. É algo impressionante! No verso 7, descobrimos que “depois que gerou a Enos, viveu Sete oitocentos e sete anos; e teve filhos e filhas”. O mesmo vemos no verso 10: “Depois que gerou a Cainã, viveu Enos oitocentos e quinze anos; e teve filhos e filhas”. Esse padrão se repete com relação a todos daquela geração. Eles apenas viveram e geraram filhos. O fato de se mencionar a idade de cada um, em oposição à geração de Caim, indica que eles viveram aos olhos de Deus.
Talvez você questione que Enos e Noé também fizeram coisas para Deus. De fato, sobre Enos, diz-se que, a partir dele, começou-se a invocar o Senhor. Todavia, invocar e orar são coisas tidas como nada aos olhos da geração de Caim. Até entre os cristãos, há essa mentalidade. Certa vez, um irmão foi até a casa de um pastor pedir sua ajuda. Ao chegar, perguntou ao pastor: “Você está fazendo alguma coisa?” O pastor lhe respondeu: “Eu estou orando”. Diante da resposta, o irmão retrucou: “Bom, já que não está fazendo nada, poderia vir comigo resolver um problema”. Essa é a mentalidade de Caim, para quem a oração não é fazer algo.
Entretanto, nas gerações de Adão, houve quem realmente fez algo para Deus: Noé. Ocorre que até o fazer dele não era em função de uma obra, um programa ou uma realização artística ou ministerial. A obra de Noé teve o propósito de preservar a vida, não o trabalho em si mesmo. Além disso, o fazer de Noé teve algum valor para a geração de Caim? Podemos até imaginar Jabal apresentando seu último modelo de tenda, Jubal dando um concerto com sua mais nova sinfonia para harpa e flauta e Tubalcaim expondo suas obras de arte em bronze. Eles viram-se para Noé e perguntam: “Qual é a sua realização?” E Noé seriamente diz: “Eu estou construindo uma arca”. “Mas, para quê?”, perguntam eles. “Porque virá um grande dilúvio e na arca estaremos salvos”, responde Noé. Os outros meneiam a cabeça, com um olhar condescendente, como a dizer: “Pobre homem, investindo a vida em algo inútil!”.
Essa é a atitude da geração de Caim. Quando dizemos que nosso trabalho é edificar uma grande arca, os Cains riem de nós. A arca é, na verdade, um símbolo da Igreja, que será preservada no Dia do Juízo de Deus. Eventualmente, me perguntam se eu sou só pastor ou se eu também trabalho. Quem vive para gerar é sempre desprezado pela geração de Caim. 
Observe como as donas de casa são tratadas do mesmo jeito. Sempre há alguém perguntando: “A senhora é apenas dona de casa ou trabalha também?” Gerar é algo desprezado pelo mundo. Uma mulher que decide abandonar uma carreira para ter filhos é taxada de louca. “Como é possível deixar uma carreira por causa de filhos?” E as que investiram a vida criando filhos são acusadas de terem desperdiçado sua existência.
Há dois tipos de pensamento, de paradigma. E esses dois tipos de mentalidade vão permear toda a Palavra de Deus. De um lado, a mentalidade dos que querem fazer algo para Deus. Do outro, a mentalidade dos que querem gerar filhos para o Senhor.
Talvez essas diferenças ainda pareçam algo muito abstrato, mas creia, fazem toda a diferença. Todos nós devemos ter o compromisso de gerar filhos, cuidar deles, discipulá-los e levá-los a crescer para que eles também tenham seus próprios filhos. Isso não significa que não precisamos fazer coisas, até porque certas atividades são imprescindíveis para manter a vida. Mas não faça das atividades o foco de sua vida cristã. Ter filhos, sim, é o centro de nossas vidas.
 
O segundo começo de Deus
Antes do dilúvio, o homem decaiu a tal ponto que Deus precisou enviar o juízo e destruir toda aquela geração. Depois do dilúvio, entretanto, Deus realiza um segundo começo. O primeiro começo foi com Adão, o segundo vem com Noé.
Após destruir toda a humanidade, Deus começa tudo de novo com Noé, no capítulo 9 de Gênesis. E disse Deus a Noé: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1).
Deus não muda. Seus propósitos, desígnios e pensamentos se mantêm de eternidade a eternidade. O que foi dito a Adão, também o foi a Noé, porque Deus não muda os Seus propósitos. Hoje, Ele diz o mesmo também a nós. Deus jamais mudou o que deseja em Seu coração. Anteriormente, vimos que Suas primeiras palavras denotam Seu coração. Mas agora vemos que aquilo que sempre é repetido também expõe o que está em Seu coração.
A geração de Noé também não respondeu a Deus. Ao acompanhar suas gerações, chegaremos até a Torre de Babel, no capítulo 11.
Deus disse: “Multiplique-se, seja fecundo e encha a terra”. Para encher a terra, há que se espalhar por ela. Todavia, encontramos os homens de Babel fazendo algo frontalmente contrário ao propósito de Deus.  Eles disseram entre si mesmos: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4).
Veja o mesmo princípio de Caim atuando novamente. Deus manda o homem gerar, mas a sua reação é fazer algo. A Torre de Babel tinha um propósito místico, esotérico, pois seu alvo era tocar nos céus. Babel é o surgimento da religião performática das grandes obras. Seu conceito se desenvolve no decorrer da Palavra de Deus e, no final, ela se transforma na Grande Babilônia descrita em Apocalipse, um sistema religioso abominado por Deus.
Deus abomina esse sistema religioso começado em Gênesis, o princípio de Babel, de fazer coisas para ter um nome, a visão de ser famoso e reconhecido, de ser visto, não pelo número de filhos que se tem, mas pelas realizações que se faz.
Todo que segue o paradigma do fazer coisas deve admitir que, no fundo, deseja ser conhecido. Se os cantores fossem colocados para cantar em nossos cultos no meio do povo, logo  desanimariam e diriam que a igreja não reconhece seus ministérios.
Qualquer ministério sem sala especial ou crachá de identificação logo morrerá, e ainda dirão que foi por falta de reconhecimento. Reconhecimento para os discípulos de Babel é ter o nome conhecido e publicado. Todavia, Babel é o oposto do mover de Deus.
 
O terceiro começo de Deus
O começo de Deus foi primeiro com Adão, que caiu. O segundo foi com Noé, que resultou em Babel. Agora, Deus chama Abraão dizendo:
De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.2,3)
Deus diz a Abraão o mesmo que disse a Adão e a Noé, mas em outras palavras. Antes o Senhor disse: “Eu os abençôo”, mas desta vez Deus diz para Abraão: “Seja uma bênção! Você quer ser uma bênção, Abraão? Através de você todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Abraão entendeu o que queria dizer a afirmação de Deus. Ele sabia que ser uma bênção para toda a terra implicava ter filhos. O próprio nome Abrão significa “Pai exaltado”, e o nome recebido depois, Abraão, significa “Pai de multidões”. Aquele que é chamado para ser pai de nações obviamente precisará ter muitos filhos. Ao lhe dar um nome, Deus revelava a Abraão o Seu coração, o que havia em Sua mente. Era como se Deus dissesse: “Abraão, eu lhe chamei para ser pai. Eu não lhe chamei pra fazer nada, apenas para ser fecundo”.
O que Abraão fez em toda sua vida? Nada. Sejamos sensatos. Como Abraão iria abençoar as famílias da terra? Fazendo obras extraordinárias? Fazendo alguma coisa? Como é que Abraão seria uma bênção para as famílias da terra? A única maneira seria tendo filhos. Ao olharmos a história de Abraão, veremos que a vida dele foi uma luta em torno de como ter um filho. Abraão terá um filho ou não? Você consegue imaginar um homem ficar a vida inteira em função de ter filhos? Isso nos parece uma contradição.
Pelo pensamento de hoje, o chamado de Deus a Abraão seria algo assim: “Abraão, o diabo está construindo uma grande torre. Eu quero que você vá e construa uma ainda maior para mim”. O conceito de Babel diz que, para honrar a Deus, temos de fazer algo maior; mas o conceito de Deus não é sequer o fazer, mas o gerar.
Dessa forma, a ordem dada a Adão, no Jardim do Éden, a Noé, em Gênesis 9, e a Abraão, em Gênesis 12, é a mesma que recebemos hoje. Deus quer o mesmo de nós. Ele não mudou, Ele continua desejando ter filhos. E Abraão sabia disso.
O chamado de Deus a Abraão foi unicamente para Abraão ter um filho. Parece cruel chamar alguém para ter um filho quando esta pessoa já não tem idade apropriada e sua esposa é estéril. Talvez Abraão pensasse: “Deus, peça o que o Senhor quiser que eu faça e realizarei para Ti, mas não me peça um filho porque não posso gerá-lo”.
É o mesmo princípio que vemos hoje na Igreja. Deus não nos chamou para fazer coisas, mas para gerar filhos. Ao perguntarmos a um pastor quantos membros há em sua igreja, ele se ofende e diz: “Eu não tenho poder para converter ninguém”. Em outras palavras, “Não está em mim o poder de gerar filhos”.
Mas essa afirmação contradiz o propósito de Deus. Como Abraão, fomos chamados para ser pais de nações. Como ele, não podemos gerar por nós mesmos; mas, se tivermos fé e disposição de obedecer, como ele teve, certamente Isaque virá e, com ele, numerosas nações. Não tenha dúvidas de que fazer coisas é mais fácil do que gerar filhos. Gerar filhos traz pressão; fazer coisas apenas traz cansaço. Gerar filhos nos força a depender de Deus; enquanto podemos fazer coisas por nós mesmos. Gerar filhos exige fé; fazer coisas exige apenas trabalho.
Muitos são acusados de querer filhos ou uma igreja grande por mera vaidade. Ninguém é mais acusado de ser vaidoso do que o pastor de uma grande igreja. Ora, a Palavra de Deus diz que a mentalidade de Babel é buscar tornar o próprio nome célebre. Todavia, é interessante ver o Senhor dizer a Abraão que tornaria o nome dele grande (Gn 12.2). É como se Ele dissesse: “Abraão, se você gerar filhos, seus próprios filhos exaltarão o seu nome”. A questão não é se ficaremos famosos ou não. A grande questão é quem está trazendo essa fama. Você está tornando seu próprio nome célebre ou Deus o está engrandecendo? Preste atenção! Quem quer tornar seu nome célebre faz coisas. Todavia, quem gera filhos espera que Deus engrandeça seu nome através deles.
Em muitos lugares, as pessoas parecem ocupadas demais fazendo muitas coisas, mas, na verdade, apenas querem tornar célebres os próprios nomes.
A maioria dos que fazem, fazem para serem vistos. Poucos fazem algo apenas pelo prazer de fazer para Deus. Não que seja errado fazer coisas, mas a ênfase não pode estar no trabalho. Não é esse o centro do coração de Deus. Realizando grandes obras e coisas para Deus, apenas nos entretemos e fugimos da pressão. Fazer coisas é fugir da pressão de ter que gerar discípulos. Discípulos gastam tempo e exigem lágrimas e fé. O que seria mais fácil? Abraão ter um filho ou construir uma torre? Ora, imagino que seja bem mais fácil construir a bendita torre.
Às vezes, pergunto a líderes da igreja local: “Você já ganhou alguma alma?” Eles ficam em crise: “Como vou ganhar uma alma? Eu não tenho o poder de convencê-las do pecado”, dizem eles. O que eles não compreendem é que a ordem do Senhor não mudou. A ordem de Deus se mantém a mesma. Deus quer que geremos filhos.
Muitos se escondem atrás do fazer. Não há crise por não ter filhos já que estão fazendo algo para Deus. Como se dissessem: “Já estou fazendo algo para Deus, não venham me incomodar”. Há quem diga com todas as letras: “Diga o que eu tenho de fazer e eu farei, mas não me mande ganhar ninguém”. Infelizmente, até pastores têm essa mentalidade babilônica.
Para alguns pastores, perguntar o número de membros de suas igrejas é quase uma ofensa. Recentemente, ao perguntar para um pastor o tamanho da igreja que pastoreava, ele se ofendeu comigo, dizendo: “Eu não tenho poder sobre isso, Deus é que convence. Se Ele não fez, o problema não é meu”. Ele não utilizou esses termos, contudo o resumo de sua defesa foi essa.
Ao afirmar não ter o poder de gerar, esse pastor mostrou ignorância sobre o nosso verdadeiro chamado. Nós temos, sim, o poder de gerar. A suposta incapacidade de gerar filhos para Deus é mentira do diabo. Há muita gente estéril no seio da Igreja, mas a estéril Sara foi curada por Deus.
Todos devem gerar filhos para Deus. As pessoas ficam embriagadas fazendo coisas. Essa é a mentalidade de Caim, de Babel. Impressiona uma igreja ter de 150 a 200 ministérios e ser vista como uma igreja que faz, que trabalha. Só uma coisa o Senhor nos pediu. Somos livres para fazer coisas. Todavia, apenas uma coisa é necessária: gerar filhos para Deus.
Só haverá mudança no mundo, se gerarmos filhos para Deus. A lógica é simples: se as pessoas são transformadas, a nação é restaurada. Alguns movimentos oram pela restauração do Brasil e usam 1 Pedro 2.9 como base para seus propósitos. A realidade, porém, é que a nação santa é o povo de Deus, e não a nossa pátria terrestre. Nem mesmo Israel é a nação santa, mas a Igreja, que é composta por todos os que foram gerados por Deus.
A nação de Deus é a Igreja. Ela é povo de Deus, não o Brasil ou qualquer outro país. Outro dia perguntei a um promotor dessa visão como será o Brasil quando ocorrer essa restauração. Sua resposta me intrigou mais ainda. Ele descreveu um Brasil nos padrões de uma Suécia ou Suíça.
Ora, quando o Brasil for como a Suécia ou como a Suíça, ainda assim será uma nação morta precisando de Deus. Se a Suécia ou a Suíça fosse o reino dos céus, Jesus estaria reinando lá. Na verdade, a nação de Deus, a nação santa, é composta apenas pelos filhos de Deus. Nós nos preocupamos com a nação, mas Deus se preocupa com a Igreja. Preocupar-se com a restauração da nação em si mesma não cumpre o propósito de Deus. Precisamos ganhar os brasileiros, pregar o evangelho e gerar filhos para Deus. Esse é o anseio que deve permanecer em nosso coração e se fortalecer no coração da Igreja.
Ao ministrar sobre esse tema, fico inquietado. Deus nos chamou para algo e o diabo tenta nos embriagar e nos desviar para outras coisas. Ele procura prender nossa atenção em coisas que, embora não sejam erradas, tiram nosso foco do ponto central. Apenas a filiação é o fundamental na vida cristã. A Igreja deveria orar e chorar, como Raquel, à procura de filhos: “Senhor, dá-me filhos se não eu morrerei!” (Gn 30.1).
Abraão creu quando Deus disse que ele seria pai de multidões. No fim, o que contará são as vidas. Tudo o que se faz passa. Apenas os filhos permanecem.
De nada adianta realizar grandes coisas e não mover o coração de Deus. É ilusão realizar feitos sem o propósito de gerar filhos. Muitos dedicam a vida inteira nesse sentido. Nossa dedicação deve se concentrar em gerar filhos, cuidar deles, fazer com que se tornem discípulos, reproduzindo neles a nova identidade dos filhos de Deus.
Passei a juventude “inventando moda”. Criava tanta programação na igreja, tantas invenções saíam da minha mente. Contudo, nada disso teve o valor que imaginei. O que teve valor foram os filhos que gerei e que permanecem até hoje como discípulos.
Volto a repetir que não somos contra fazer coisas e realizar atividades. Nós temos atividades, mas elas não são o centro do nosso trabalho. O centro do nosso trabalho é gerar filhos para Deus. Claro que fazemos muitas coisas necessárias. Temos de manter e limpar o prédio da igreja, imprimir material de treinamento. Evidentemente, alguém precisa parar para digitar o texto e enviar para a gráfica. Muitas coisas são feitas, e elas são necessárias. Todavia, não são um fim em si mesmas. Alguém precisa fazê-las e ganhará sua recompensa pelo feito, mas o coração de Deus só se alegra quando um filho nasce.
É como a mulher que espera o filho. Ela se prepara, arruma o quartinho do nenê. Se ela tem algum dom especial, certamente o colocará em prática. O pai pintará o quarto, fará a decoração. Enfim, há muitas coisas a se fazer enquanto se espera o filho. Contudo, depois do nascimento do menino, alguém nota essas coisas? Se o menino não nascer, adianta tudo isso? Não seria uma grande frustração, um vazio terrível? Há igrejas assim. Arrumam o quarto, vivem pintando coisas, fazendo brinquedinhos e roupinhas, mas o filho nunca vem!
O reconhecimento é esperado em toda atividade. Contudo, essa não é a base da Igreja, mas sim o gerar. Ao gerar, não há necessidade de elogios, pois o reconhecimento vem do filho. A alegria do pai é escutar do filho: “Você é o melhor pai do mundo. Não há pai como você”. O pai sabe que pode até não ser verdade, que é um tremendo exagero, mas ele fica todo feliz e cheio de si. Então, o menino vai crescendo e diz: “Pai, eu quero ser como você”. Há alegria maior para um pai? A glória do pai é ter alguém querendo andar e ser como ele.
Não há alegria maior do que ouvir um discípulo falar coisas como: “Você acredita mais em mim do que eu mesmo”. Quando ouço: “Tenho aprendido tanto com você, minha vida foi transformada”, esse reconhecimento mostra os filhos que tenho gerado. Os filhos são a minha glória e o meu louvor. Eles é que me motivam. Eu não largaria isso por nada na vida. Jamais deixaria de gerar meus filhos para fazer coisas. Não vejo lógica nessa atitude. Um filho aponta para a eternidade. É uma marca mais profunda.
O que você quer dar para Deus que Ele não tenha? Uma música? Sejamos francos, os anjos adoram o Senhor com canções muito melhores que as nossas. Você quer fazer uma pintura para Deus? Onde Ele pregará seu quadro? Já viu os quadros que Deus pinta todos os dias?  Deus possui tudo, mas ainda assim há algo que Ele nos pede na Bíblia: “Filho, dá-me o seu coração”. Ele não tem o coração dos homens, e é isso que Ele quer. O que Ele pedirá no dia do julgamento dos vencedores, no Tribunal de Cristo? O que você acha que Ele lhe perguntará? Certamente será: “Onde estão os seus filhos?” 
Jesus poderia ter usado uma série de ilustrações para descrever seus discípulos, mas é precioso ouvi-lo dizer que somos sementes. Devemos ser como a semente que só tem uma utilidade, reproduzir-se.
Consegue imaginar um monte de sementinhas querendo fazer obras para Deus? “Vamos fazer para Deus uma grande torre”, dizem elas. E começam a subir umas nas outras e a construir. Mas há uma indo contra a correnteza. Ela diz: “Eu quero gerar para Deus, e vou me enterrar e esperar Ele fazer”. As outras dizem: “Isso é desperdício de potencial. Vamos fazer alguma coisa para Deus”. Ao que a sementinha diz: “Não, eu quero é gerar”. As outras ficam fazendo algo para Deus e, com o tempo, elas conseguem juntar um monte de palha e feno. A sementinha, no entanto, brota do chão e começa a crescer. Num belo dia, começa a gerar fruto para Deus. Quem você acha que cumprirá o propósito do Senhor? A obra das sementinhas ou os frutos da semente? Não preciso responder.
No dia do julgamento, alguns trarão ouro, prata e pedras preciosas, outros trarão madeira, palha e feno. Pedro disse que somos pedras vivas. Portanto, ouro, prata e pedras preciosas nos falam de pessoas para Deus, enquanto madeira, palha e feno nos falam de obras humanas, trabalho humano.
A Bíblia fiz que o fogo de Deus testará a obra de cada um. O que o fogo consumir irá se perder, a pessoa será salva, mas não terá recompensa (1 Co 3). Todavia, o que o fogo não consumir ficará para ela como recompensa e glória. Sabe qual a única coisa que o fogo não consome? Fogo não consome fogo. A Carta aos Hebreus diz que os filhos de Deus são ministros feitos labaredas de fogo (Hb 1.7). No dia em que você creu em Jesus, você foi feito filho de Deus. O que Deus é? Deus é fogo consumidor e os Seus filhos são pequenas labaredas de fogo porque nós somos da Sua natureza. Quando Deus vem até você, Ele não lhe ferirá, só aumentará seu fogo, fogo não destrói fogo. Contudo, ai de quem não for fogo. A presença de Deus será um inferno para essa pessoa.
Só quem é fogo gera filhos para Deus que serão fogo também. No instante em que sair o fogo de Deus e passar por todos nós, esse fogo queimará a madeira, a palha e o feno. Em seguida, o Senhor verá o que sobrou. Sobrará somente o que for fogo também, ou seja, os filhos que nós geramos para Deus.
Quando você estiver diante de Deus, o que acha que será requerido de você? Você quer ser vencedor? Só reinará aquele que tiver coroa. Quem é nossa coroa e glória? Segundo o apóstolo Paulo, os filhos são a nossa coroa e glória (Fp 4.1; 1Ts 2.19). Se quiser reinar naquele dia, apresente para Deus o que Ele deseja. 
Não quero descobrir depois de velho que estava fazendo algo que não era o centro do coração do Senhor. Seu desejo é que geremos filhos. Você consegue se lembrar de algo que Jesus tenha feito? A Bíblia não diz que Ele construiu coisa alguma. Não organizou nada, nem mesmo os Evangelhos Ele escreveu. A única coisa que Ele fez, com excelência, foi gerar filhos.
Paulo era fabricante de tendas. Contudo, nunca ocorreu a ele fazer uma grande tenda para abrigar a igreja de Éfeso ou Corinto. E por quê? Será que Paulo não tinha visão? Paulo mostra-se uma pessoa altamente pragmática. Ele não perdia tempo fazendo coisas. Seu alvo era gerar para Deus.
Alguém pode questionar que Paulo escreveu muitas cartas. De fato, Paulo escreveu muitas epístolas. Todavia, tais cartas não são fruto de um ministério epistolar. Ele escrevia por razões mais prosaicas. Ele escrevia para cuidar dos filhos que possuía. Os coríntios, Timóteo, Tito, Filemom eram todos filhos dele. Ele apenas cuidava deles. Como não havia internet e nem telefone, então ele usava as cartas. Tratava-se de um instrumento. E graças a Deus por elas, porque nós podemos hoje conhecer o Evangelho de Deus. Todavia, do ponto de vista natural, Paulo não era um realizador. Ele não construiu nada.
Precisamos ter cuidado com a pergunta que o Senhor fez em Lucas 13.7: “Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?”
 
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Pr. Aluizio A. Silva
Vinha - Videira e Ministérios Associados